
-Vem. Quero-te Aqui, Agora.
-Onde fica o Aqui?
-Perto das Ruínas do Nada, no meio do que teria sido a Aldeia da Solidão. Avistar-me-às ao piano sem teclas, onde todos os sons são parte de um silêncio profundo e imaginado, retirado de um pesadelo inacabado, do qual se alimentam as almas do Purgatório. Corre, veloz, que a Noite vem cair sobre mim.
-O que significa o Agora?
-Agora, meu amor, agora que os ponteiros não andam. Vem agora que as multidões cessaram e os pássaros não cantam. Vem para que cantem de novo e não haja mais deste Agora nem mais deste Aqui. Vem para que o mundo não padeça na escuridão, para que a cotovia não me mire e me sussurre ao ouvido. Vem e traz um rouxinol que quebre os silêncios mudos e os vis momentos em que me sinto como sou. Vem e renasce para mim. Relembra-me quem és. Oh, meu amor, relembra-me quem sou! Diz-me quem fui, quem sou e quem serei, para que a ti, te possa reconhecer depois do tempo ter passado e este momento não representar mais o Agora.
Vem Agora e tira-me d'Aqui. Refugia-nos aos dois na Eternidade de um momento irrepetível e rasga o Oráculo das Memórias que não virão.
Corre, veloz, que a noite vem cair sobre mim.