quinta-feira, 1 de julho de 2010

Infância


- Dá-me a tua mão.
O menino estendeu a mão, a sorrir. Delicadamente, perguntou:
- Porque precisas?
Num gesto desajeitado e decidido, levou a mão do menino ao peito. O coração batia, doce e tranquilamente, num corpo esguio e indefeso de menina pequena. Menina pura. Menina indefesa. O menino fixou o seu olhar azul penetrante nos da menina e sorriram. Sorriram e não falaram, como se fossem muito crescidos e entendessem todos os olhares silenciosos, todos os gestos escondidos num sorriso de porcelana, num suspiro longo e calmo, num mero trocar de olhares. Quem sabe, saberiam eles melhor do que as pessoas crescidas, que sempre julgam saber tudo e quase sempre não sabem de nada. Quem sabe, eram sábios. Sábios na pureza, no florescer do todos os verdadeiros sentimentos, aqueles que conseguíamos distinguir verdadeiramente. Sábios na simplicidade do pensamento lógico, sábios na complexidade das coisas belas. Enfim, sábios na ignorância da Teoria Humana, pois tinham toda a liberdade necessária para perceber o significado da vida. Ou então, para o não tentar perceber. Sábios.
A menina entrelaçou, então, os seus dedos nos dele. 
- Vamos correr! Partida... Largada... Fugida!
A correr, a saltar, a rir... fugiam pelo meio da multidão de pequenas crianças, movendo-se desajeitadamente entre os auxiliares do recreio. Correram, e ninguém foi capaz de os parar. Correram, de mão dada. Como dois amigos que o tempo nunca se atreveria a separar.

***

-Onde estão hoje? 
-Perdidos no meio da multidão, mas já não correm, e muito menos vão de mãos dadas. Estão lado a lado e não se vêem um ao outro. Olhos vazios. Lábios serenos, sem esboçar sorriso. Ele de fato, ela de saia. Ele ao telemóvel, ela atrasada para um qualquer evento sem interesse.
-Porque não sorriem?
-Cresceram.