domingo, 23 de novembro de 2008

Running


"A vida não podia ter sido mais directa. Ou indirecta. Tudo chegou a um ponto em que já nem eu própria o sabia o que dizer."
Aquela alma vagueava, fora do corpo, sem qualquer tipo de aura de esperança. Procurava um caminho longo para um fim rápido. Não pedia indicações. Tentava perder-se em cada árvore, em cada nuvem, em cada olhar... Mas rapidamente era forçada a voltar ao caminho. Tudo se passava à sua volta com uma velocidade incrível. Não havia tempo para parar. Não havia tempo para ver o sol ou para sentir a chuva, para cheirar uma rosa ou beijar um cravo; não havia tempo para implorar ao relógio nem para fugir de Cronos. Não havia sequer tempo para sorrir. A alma perdida já tinha tentado, mas os seus semelhantes gastavam muito do seu tempo a castigar os que tentavam ser felizes...
Temem o que não conhecem.
"Não sei o que me faz continuar, mas não é, de certeza, a vontade."
E assim seguia o seu caminho. Sem uma razão para continuar, mas também sem nenhuma razão para parar... Antíteses e ironias, pleonasmos e vazios... Nada que alguma vez fosse mesmo necessário...
Já não corria por simplicidade, mas também não conhecia a maldade. O pior de tudo continuava a ser a indiferença gerada pela saudade, que já nem os olhos da criança curavam...

sábado, 15 de novembro de 2008


Por vezes, adormecemos acordados. Adormecemos e os sonhos controlam-nos a mente de tal forma que ela foge. Refugia-se, indefesa, nas entranhas do cérebro, sem poder pensar no que está prestes a acontecer. Então, por intermédio de algo não premeditado e demasiado puro, o corpo reage. Impulsivamente. A realidade voa para longe, levando a mente nas suas asas. E o sonho ali fica, repousando, seguro de si mesmo, ainda com o comando do corpo. Mas o corpo não actua no sonho. Actua, sim, na realidade. Mata, tortura e arranca diabolicamente cada uma das pontes que a mente tanto lutou por construir, na realidade em que um dia reinou. Então, para o sonho, temos o objectivo atingido; para a mente, alcançamos a realidade escura e silenciosa de um vazio. E tudo porquê? Porque a mente substimou o poder dos sonhos e criou duas visões num só olhar. Mas o exterior nunca deixou de ser a realidade única.