quarta-feira, 19 de junho de 2013

Chuva

A chuva cai. Segue incessante e a água escorre pelas ruas, acumulando-se nos passeios sujos e manchados de todos os passados recônditos que por ali passaram.
A chuva cai e o tempo passa. 
Se ao menos o tempo cessasse, a chuva podia descansar. Se ao menos o tempo parasse, talvez a chuva reconsiderasse e não caísse. Talvez, quem sabe, seguisse e não voltasse. Talvez fugisse. E assim talvez o seu mundo mudasse. Quem sabe, cada gota respirasse e soubesse escolher o que queria ter e fazer, e animada de vontade própria, talvez preferisse um outro sítio para cair. Quem sabe, talvez aprendesse, amasse, vivesse, escolhesse... Quem sabe, talvez até morresse.
Mas o tempo não cessa e a chuva não pára. E as gotas caem, escorrem e correm todas na mesma direcção, afundadas num charco maior, como cordeiros no rebanho, sem resistência, apenas latência. E marcham em conjunto, manchando o chão de tons mais escuros e inundando o ar com a brutal frieza da queda, irrompendo pelo silêncio da noite despedaçada, nos passeios por onde todos passamos, caindo com o tempo. Presas pela lei da areia na ampulheta, presas pela gravidade.
Ora como haveriam de resistir se não passam elas de pequeníssimas gotas de água ?
E o tempo passa.

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